Dificilmente
o esporte é visto pelos administradores públicos como uma ação social. Prova
disso, é o baixo percentual do orçamento destinado às secretarias de esportes.
Nesta entrevista ao Diário, o secretário municipal de Esportes, Antonio Carlos
Pereira, explica como sua pasta enfrentou esse e outras dificuldades em 2015 e
como pretende ampliar os investimentos neste ano.
Pereirinha,
como é conhecido, assumiu a Secretaria de Esportes em 2009, credenciado pela
história que possui dentro esporte estadual e nacional. Apesar das críticas
iniciais pelo fato de não ser botucatuense, o dirigente conseguiu reduzir a
desconfiança mostrando-se um hábil captador de recursos externos. Deixou a
secretaria no final do primeiro governo de João Cury para assumir um cargo na
organização da Copa do Mundo.
Doente,
voltou a Botucatu e ficou afastando das atividades profissionais por um bom
tempo até ser convidado para voltar à Secretaria no segundo mandado do prefeito
João Cury.
Diário
da Serra - Como a Secretaria tem feito para atender as inúmeras demandas
dos esportistas botucatuenses?
Professor Pereira - Esta secretaria
tem pautado suas decisões no diálogo com os diversos segmentos
esportivos da cidade: clubes, associações de diversas modalidades
(Judô, Karate, Jiu Jitsu, Kung Fu, Capoeira, Ciclismo, Atletismo,Basquete,
Voleibol), organizadores de eventos (Brasil Ride, Haka Race,
Corrida Explorer, Federações Esportivas, Yescom) e toma suas decisões com
base no número de beneficiados e na disponibilidade orçamentária.
Nosso compromisso maior é de assegurar a democratização do acesso aos
recursos públicos. E nos últimos anos conseguimos ampliar o número de
entidades com as quais estabelecemos convênios e parcerias. Essa é
uma marca dessa administração que muito nos orgulha.
DS
- Por que o Esporte tem uma parcela tão pequena nos
orçamentos públicos de uma forma em geral?
PP -
Essa é uma realidade que fica evidenciada quando se olha para os
orçamentos dos municípios, dos estados e do Governo Federal. No
Brasil, ainda existem carências em muitas áreas. Se comparado com
a maior parte dos municípios, a situação de Botucatu ainda pode ser
considerada privilegiada. Na grande maioria das cidades, os recursos
destinados ao esporte ficam entre 0,3% e 0,5% do orçamento geral.
Em Botucatu, mais de 1,5% do total geral que se arrecada é destinado
ao esporte. Este quadro na minha leitura se deve a necessidade de se
investir mais em educação, saúde, segurança, infraestrutura. Em
alguns casos, sabemos que os índices mínimos obrigatórios são
insuficientes para atender as necessidades básicas da população. Para
que se tenha uma ideia, na Saúde vários serviços e equipamentos novos
foram abertos como Pronto Socorros, SAMU, novos postos de saúde, além
da necessidade de destinação de recursos para compra de medicamentos,
campanhas de vacinação, ambulâncias, contratação de profissionais.
Na Educação, temos a compra de material escolar, uniformes,
equipamentos, construção de escolas e creches, etc. Por conta dessa
realidade, é preciso ressaltar o trabalho que o prefeito João Cury
realizou nos últimos oito anos buscando
recursos extra-orçamentários que contribuíram para a construção de
novos equipamentos esportivos em nossa cidade. Hoje a prefeitura tem
a noção clara das necessidades na área esportiva e, na medida do
possível, elabora bons projetos e mantém boas relações com
os governos estadual e federal que nos permitem pleitear
recursos para execução de obras e ações que beneficiam a nossa
população.
DS - Quais foram as principais
ações da Secretaria de Esporte em 2015?
PP -
Podemos destacar a abertura de licitações para a construção do Centro
Esportivo na Praça Heróis do Araguaia (Monte Mor) e construção do
Ginásio Paradesportivo atrás do Ginásio Mario Covas, ambos com verba
do Ministério do Esporte; participação nos diversos eventos do
calendário esportivo Estadual e Regional (Jogos Regionais Jogos
Abertos, Jori, Jogos Abertos do Idoso, competições de federações
esportivas, Copa TV Tem e Record, entre outros); promoção de diversos
eventos de modalidades que enfatizam o esporte de aventura
(trekking, Mountain Bike, caminhadas, corridas de ciclismo, corridas a
pé, moto cross, etc. e nos diversos campeonatos de futebol e futsal
em diversas faixas etárias). Melhoramos a estrutura das praças esportivas;
ampliamos os espaços que passaram a contar com academias ao livre;
apoiamos as mais diversas iniciativas e eventos esportivos e demos
todo o suporte para o trabalho das escolinhas.
DS
- Quais os
principais objetivos para 2016?
PP -
Os principais objetivos são a entrega dos dois ginásios
esportivos (Monte Mor e Paradesportivo); do Centro Paradesportivo
que abriga um grande conjunto aquático; ampliação da Praça da
Juventude com a revitalização do Bosque do Sossego (paisagismo,
iluminação, câmeras de segurança já executados) e construção de
quadra de tênis, nova administração, academia ao ar livre (em fase
de licitação); além de continuar trabalhando para transformação do
antigo campo da Vila Maria em um grande complexo esportivo.
DS
- Botucatu deixou de ter esporte coletivo de alto
rendimento. Primeiro foi o futebol feminino, agora é a vez de o
futsal masculino acabar. A prefeitura pretende fazer alguma coisa
para tentar ajudar esses clubes a manterem equipes competitivas?
PP -
A Prefeitura apóia os clubes sociais da cidade por intermédio do
aluguel de suas instalações para atender a efetivação das escolas de
esporte, através de projetos sociais executados pelas entidades e
transporte para as competições. É vedada pelo Tribunal de Contas
a liberação de verba específica para o desenvolvimento de esporte de
alto rendimento. Quanto à modalidade de futebol feminino, a
Prefeitura apoiou esta modalidade em 2014 com recursos, mas devido a
sua prestação de contas estarem em desacordo com normas da
administração pública, não pudemos continuar com este apoio.
Mas nem por isso, em 2015, deixamos de participar com vitórias nos
Jogos Regionais e Abertos, nas Copas TV Tem e Record. Quanto ao
futsal adulto, pelas mesmas razões não temos como fazer aporte direto
de recursos para esta categoria, mas continuaremos colaborando com
Associação Atlética Botucatuense no tocante a transporte para
competições oficiais nas categorias menores e nas outras modalidades.
Aquilo que estiver ao nosso alcance continuará sendo feito,
porque entendemos que os clubes esportivos prestam um grande serviço
à cidade.
DS
- Você tem uma grande experiência na área esportiva. Não
seria interessante para cidade ter um esporte como referência? Unindo
clubes, prefeitura e iniciativa privada?
PP - Claro que seria
interessante termos uma modalidade de esporte coletivo em nossa
cidade. Mas não basta ter vontade. É preciso que haja
suporte financeiro para que isso aconteça. Esporte de alto
rendimento requer estrutura, muito investimento e participação da
iniciativa privada. Os clubes não dispõem de orçamento suficiente
para isso. Já as empresas têm as suas dificuldades para aportar
recursos mesmo contando com leis de incentivo tanto em nível
estadual como federal. Por exemplo, a Caio/Induscar apoiou a
Associação Botucatuense de Desporto com aproximadamente quatrocentos
mil reais via Lei de Incentivo Federal (Imposto de Renda). Creio que
após uma avaliação do resultado obtido não manifestou mais interesse
em continuar com este apoio. Já a prefeitura não pode fazer esse
desembolso. Temos trabalhado pela criação de uma cultura esportiva na
cidade, oferecendo condições para que a prática do esporte aconteça
nos mais diversos bairros. Além disso, estamos sempre abertos a estabelecer
parcerias e discutir projetos que possam, dentro
das nossas possibilidades, resultar na criação de equipes de
alto rendimento.
DS - Qual a análise das
escolinhas esportivas? Elas estão atendendo quantas pessoas?
PP -
As escolas de esportes são uma necessidade e têm atendido
os objetivos desta administração em todas as faixas etárias.
Hoje contamos com cerca de 4.500 alunos. Convém ressaltar que esta
clientela é bem diferente de dez anos atrás, quando eles andavam
tranquilamente mil metros para realizarem suas atividades. A cidade
cresceu muito havendo a necessidade de deslocamentos para praticar
determinada modalidade. Mas continuamos dando total apoio aos núcleos
de iniciação esportiva espalhados pela cidade, já que cumprem
uma função social importante.
DS
- Qual a sua visão sobre essa polêmica envolvendo na liberação do uso
de carrinhos de bebê na pista do Inca? Você concorda com a decisão
do prefeito?
PP - Primeiramente
é preciso esclarecer que a decisão não foi somente do prefeito. Eu
fui consultado e apoiei esta solicitação, pois não vi, e não vejo
como pode prejudicar os usuários da pista de atletismo do Estádio
Municipal. Aquela pista possui seis raias e três delas são reservadas
para os atletas. Inclusive cadeirantes, que treinam em horários
variados (manhã, tarde, noite). Existe uma clientela de praticantes
de caminhada que se utiliza de duas raias e a raia seis para as
pessoas que querem levar seus filhos ou netos em carrinhos
para continuar com a sua prática da atividade física. A utilização não
passa de três a quatro pessoas por dia. Com certeza não causa transtorno
a ninguém.
DS - Qual a
importância da passagem da tocha olímpica por Botucatu?
PP -
A importância é extremamente significativa. Primeiro que
Botucatu será uma das 300 cidades do Brasil que terão este
privilégio. Segundo que será uma das 41 cidades do Estado de São
Paulo. Terceiro que nos próximos cinquenta anos não haverá outra
Olimpíada no Brasil. E quarto que Botucatu está inserida na realização
deste grande evento esportivo internacional, que com certeza estará
presente em todo o seu percurso.
DS - Em
sua opinião, qual a importância da Olimpíada para o Brasil? Ela trará
benefícios?
PP -
No que se refere à importância esportiva não há como negar que o
esporte brasileiro tem se beneficiado. As equipes
contarão com treinamento adequado, eventos testes, grandes
instalações esportivas, legado principalmente para a idade do Rio de
Janeiro, competições de alto nível e a visibilidade do País no cenário
Internacional. Com certeza trará benefícios, mas para se concretizar
todo este legado se faz necessário haver um aprimoramento na gestão
das entidades que dirigem o esporte brasileiro, (confederações,
federações, comitês olímpico e paralímpico, ministério e secretarias
estaduais e municipais).