Técnico de futsal relata racismo em partida de liga feminina em São Paulo
A partida de futsal entre São Carlos e Indaiatuba pela Liga Paulista de futsal feminino terminou em uma denúncia à polícia de racismo. Jeferson Teixeira, preparador físico do time de São Carlos que atuava como técnico no jogo, relatou ofensas de uma garota que fazia a secagem da quadra: "Ela falou: 'está vendo, seu time é ruim, seu macaco, se f... seu negro'. Tirou até a mascara para falar, deu risada quando eu estava saindo e começou a xingar. Disse 'não estou acreditando' e pedi para o time sair de campo. Voltei para quadra e comuniquei a mesa de arbitragem. O árbitro falou que não viu, pois estava prestando atenção no jogo", conta. A partida aconteceu no Complexo Morada do Sol, em Indaiatuba.
O
duelo contra as donas de casa estava equilibrado a oito minutos para o final.
Perdendo por 3 a 2, Jeferson apostou na goleira-linha para busca a igualdade no
marcador. No fim do jogo, a estratégia deu errado e o São Carlos acabou perdia
por 5 a 2. Irritado com a falha na troca que culminou no gol, o técnico recebeu
o segundo cartão amarelo e foi expulso. Na saída, aconteceu o episódio de racismo.
Quando
o juiz disse que não faria nada, Jeferson pediu para seu time abandonar a
quadra. "Uma das jogadoras tinha ouvido e foram atrás da menina. Teve uma
confusão. Quando fomos procurar, a menina tinha saído do estádio e ninguém
conhecida. Ela estava com o uniforme do clube, mas disseram que era uma indicação
e não sabiam quem era. Me deram apenas o nome. Teve uma atleta que não estava
relacionada do meu time que ouviu também as ofensas", contou. Na manhã do
último sábado (3), os responsáveis por uma página da equipe de Indaiatuba
postaram uma nota nas redes sociais. Sem citar nomes, disseram que "'N.F.'
era 'uma assídua voluntária do futsal feminino da cidade. N.F. nega que tenha
praticado qualquer ato análogo ao racismo e que apenas disse a seguinte frase:
'Boa Bia'". Depois que a Prefeitura se pronunciou através de uma nota
oficial, os administradores da página, por volta de 16h, apagaram o texto por
conta própria. "Nesse tempo, a polícia chegou para fazermos a ocorrência.
Mas a PM nos orientou a fazer o boletim em São Carlos.
Com
esse boletim, tenho seis meses para ver se quero processar ou não e encaminham
para Indaiatuba e agora vamos ver com os advogados para ver as medidas
cabíveis. Não podemos deixar somente nisso. É um contexto muito mais
amplo", declara Jeferson.
No
texto divulgado pela Secretária Municipal de Esportes, as providências sobre o
caso só devem ser tomadas nesta segunda-feira (11). Eles aguardam a liberação
da súmula para se reunirem e buscar apurar para tomar as providências 'sérias e
cabíveis'.
Time
adversário teria pedido para não denunciar Enquanto Jeferson tentava descobrir
quem era a garota que o tinha ofendido, membros do time de Indaiatuba o pediram
para não levar para frente a acusação. "O técnico delas, a todo momento,
falava que se fizesse um boletim iria prejudicar o projeto. Não dá para
equalizar o desrespeito, a agressão, com um projeto. Não tem como. Se tem algo
que vai atrapalhar o projeto são pessoas com a índole como a dessa moça. Se ela
realmente não é do contexto deles, alguém a liberou. Ninguém contrata sem
filtro, sabiam quem era ela. Mas, como falei, teve a ofensa dela e a omissão do
racismo. Mas teve um terceiro incidente, que foi tirar ela da quadra. E um
quarto, que foi quando indagou-se o responsável e ele disse que não sabia quem
era", afirma.
Apesar
disso, ele diz que vai manter a cordialidade na partida de volta —a competição
tem ida e volta e o clube de Indaiatuba ainda irá a São Carlos uma vez.
"Falei no vestiário, vamos ver as medidas cabíveis e elas vão jogar aqui.
Sem pontapé, sem bater me ninguém, vamos ser receptivos e fazer uma recepção
familiar. Vão ter respeito e farei questão de cumprimentar todos. Vim de uma
raiz que não tem essa. Ainda mais quando você é o anfitrião. Vamos fazer
diferença", comentou.
Jeferson
sentiu racismo na universidade Mestre em fisiologia do exercício e doutorando
na área, Jeferson conta que a última vez que sofreu um caso semelhante foi há
cerca de 4 anos. O choque do momento, na época, não o fez levar a acusação para
frente. "Foi na universidade, em 2017. Uma situação constrangedora, em que
uma aluna de pós-doutorado me perguntou como era ser negro e andar com um
'carrão'. Se a polícia me parava muito... Durante um experimento. Na hora ainda
brinquei. Tinham umas estagiárias que ficaram constrangidas e passou. Conversei
com meu orientador na época", comentou.
Confira
a nota oficial da Secretaria Municipal de Esportes de Indaiatuba
A
Secretaria Municipal recebeu a informação de que um possível ato de racismo
teria ocorrido no final da partida realizada entre os times de futsal feminino
de Indaiatuba e São Carlos na noite de ontem (2/7). A Secretaria vem a público
reafirmar que é totalmente totalmente contra qualquer ato racista e de
desrespeito em qualquer uma de suas formas. Reforça ainda que aguarda a súmula
da partida para embasar uma apuração e providências sérias e cabíveis.
Fonte: Uol.com.br
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